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quinta-feira, 26 de abril de 2012

Jornalismo literário - Um bate papo com Rogério Pereira

Rogério Pereira é editor do jornal Rascunho

"Muitas pessoas não sabem que gostam de ler. É preciso mostrar isso a elas."


Entrevista com Rogério Pereira - Editor do Rascunho - O jornal da literatura do Brasil

Como surgiu a ideia de fazer o Rascunho?
Foi bastante prosaico: reuni um grupo de amigos para criar um jornal literário. Tínhamos muito claro que precisávamos fazer algo de qualidade, expressivo, diferente. Então, resolvemos apostar em longos textos, longas entrevistas, espaço para inéditos — algo em franca decadência na imprensa brasileira naquela época, tão apaixonada pelas novidades da internet.Era preciso fazer o ‘melhor jornal de literatura do Brasil’, mesmo sem nenhum dinheiro, pouquíssima visibilidade e conhecimentos mais do que frágeis."

Lembro-me de uma fase mais polêmica, com resenhas mais duras, brigas até. O Rascunho, me parece, está mais suave. É da idade? Foi algo que ocorreu naturalmente ou vocês buscaram uma mudança de ânimos? "Hoje, somos mais mansos, mais bovinos? Talvez sejamos mais responsáveis, sem perder a liberdade de opinião.O Rascunho vive publicando resenhas negativas a vários autores consagrados. Qual o problema? Nenhum. Fazer um jornal para ficar bajulando o outro em troca de bajulação é algo que não nos seduz. O jornal continua sendo um amplo palco para discussões literárias, para a divulgação do livro, leitura e literatura."

O que é mais difícil – ter mais leitores, ter os colaboradores que procuram, ter patrocinadores?
Mais difícil é encontrar dinheiro. A ignorância está entranhada na vida do Brasil. Nossa classe média é alfabetizada, mas não lê. Ou lê para se distrair. Portanto, um bando de analfabetos. Nossos políticos, com algumas boas exceções, são todos clones do Tiririca. Leitores surgem o tempo todo. Somos uma imensa minoria. Mas com bastante ânimo."

O Paiol Literário, projeto que recebe autores para longa conversa, e agora a reunião em livro das principais entrevistas fortaleceram o Rascunho? É preciso fazer algo que dê sustentação financeira. O Paiol não é nada original: entrevista com um escritor, com perguntas do público. O diferencial é que guardamos a memória de todos os encontros com a transcrição no Rascunho, com o áudio e o vídeo."

O site ajudou na vida do Rascunho impresso?
O site ‘piorou’ a vida: não ganhamos dinheiro com ele (só gastamos) e cresceu muitíssimo a nossa demanda. Todo dia tem alguém entrando em contato, mandando textos, mandando livro, etc. Um verdadeiro inferno, no bom sentido (acho). Hoje, temos mais leitores no site do que na versão impressa. Ao todo (site + impresso), temos quase 30 mil leitores.

Por que as nossas publicações literárias nascem e morrem tão rapidamente? A competição entre os pares é um problema maior que a própria falta de público?
Deus se esqueceu de colocar na constituição cerebral da classe média brasileira que ler é importante. Os diretores de marketing não destinam verbas publicitárias a estas publicações literárias. E elas morrem. Ninguém se interessa por publicações alternativas de literatura. A não ser os leitores e os escritores. Se todo mês cada um que diz gostar doasse R$ 1, estaríamos salvos. O pobre não é solidário na literatura. Nem no câncer."

O que quer o Rascunho agora? Algum novo projeto, reformulação à vista?sobrevivência. Sempre. Mas sempre queremos ir além da sobrevivência. Vivo de projetos. O que me impulsiona sempre é a possibilidade de fazer algo, de ir além. Pretendo criar uma fundação: Fundação Rascunho de Cultura. Com isso, desejo criar projetos sociais de livro e leitura. Ir além da discussão teórica, da divulgação dos livros etc.Acho que uma Fundação dará suporte para mais esta aventura. Também pretendo criar uma biblioteca comunitária na casa da minha mãe, além de criar também o Prêmio Rascunho de Literatura. Não tenho projetos originais. São todos muito óbvios. Mas acredito que é preciso dizer o óbvio todos os dias. E o original quando é possível.”

Feito por Josélia Aguiar - Jornalista especializada na cobertura de livros.

Para ler a entrevista na integra acesse: livrosetc.blogfolha.uol.com.br


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